O NATAL DE ONTEM
Na aldeia tudo está calmo.
Os prados verdes de Maio e dourados de Junho deram lugar a um manto branco de paz e inocência que tudo cobre.
Aqui e ali, saltitam coelhos atrás de um rato pequeno que se esgueira por entre as pedras do velho moinho da tia Celeste.
Eu, sozinho atrás da janela, olho aquela natureza bonita que encantava os meus sonhos de menino.
Lembro, com saudade, que cedo acordava e enfiado nas botas de borracha, corria feliz a pisar aquela neve fria que me encantava. Como era feiticeira toda aquela brancura! Cegava-me de início e depois... cobria-me... até me sentir gelado.
Era aos gritos da avó Lena que corria para casa onde me esperava o velho sermão de sempre e a roupa quente junto à lareira. A avó, sempre tão afável e preocupada lembrava-me a pneumonia que tinha tido aos quatro anos e ligeira enfiava-me a camisola, as calças, o casaco de lã e as meias grossas.
Eu, garoto ainda, não entendia todo aquele frenesi. Ouvia-a por respeito, mas nunca percebia todas aquelas preocupações.
Tantos cuidados... quando eu só queria pisar aquela neve branca que me atraía e tanta satisfação me dava.
Aos domingos saía com ela cedo. Era o dia das visitas. A casa do Senhor, em primeiro lugar; a casa da tia Custódia, velha caseira que encamara havia alguns anos e o tio Manuel que vivia no outeiro.
Todos eram simpáticos para comigo. Contavam-me velhas histórias, sempre as mesmas, que lembravam episódios antigos em que meu pai participara. Era com os olhos marejados de água que, por fim, diziam que o Lucianinho cada vez mais se parecia com o pai.
Pobre Custódia, pobre tio Manuel, como lhes era agradável sonhar com o passado...
Nessa época as histórias antigas pouco me diziam. Quem as ouvia, sempre atenta e também a choramingar, era a avó Lena. Também ela sonhava com o seu filho, menino travesso, que corria pelos campos e a arreliava ainda mais do que eu.
Depois, era o regresso a casa. O almoço quente ao lume, as resmunguices do avô, as traquinices de Teresinha, minha irmã mais nova. Tudo fazia parte do meu domingo na aldeia.
À tarde, esperava ansioso pela chegada do Zé da Maria Francisca, do João e da alegre Ana. Estes "amigos de Stª. Cristina", como lhes chamava na cidade, eram os meus companheiros de guerra travadas no campo, de passeios pelo deserto, de investidas no mato. Eram eles os meus companheiros da aldeia e os meus companheiros de sonhos, quando na cidade, bem longe, recordava as nossas brincadeiras.
O Zé da Maria Francisca era um garoto magro e com aspecto doentio que nem parecia ter já nove anos. Era filho segundo de uma numerosa família serrana. O João e Ana eram dois gémeos que, como eu, costumavam passar as férias de Natal na aldeia. Filhos de um juíz a exercer na Beira, eram dois garotos travessos que passavam o ano esperando gulosos como eu, a chegada do frio de Dezembro, do Natal e da neve.
Juntos formávamos um quarteto poderoso, forte e disciplinado que todas as noites agradecia a Deus, termos avós lá bem longe, na serra.
A noite de domingo era calmamente passada à lareira, ouvindo o primo Berto contar os seus negócios de gado, o tio Zé tocar guitarra e a avó cantar, enquanto fazia a sua renda de bilros. Como das suas mãos cansadas saíam trabalhos bonitos!
Lembro-me de passar muito tempo olhando-a, sempre com um sorriso nos lábios entoando a sua canção "Quien no habla como tu, no sabe ser un bon nobio"... Como cantava bem! Como o seu sorriso me parecia tão quente, como o fogo que ardia na lareira.
A avó Lena possuía a lareira mais quente de toda a aldeia.
Não faltava calor naquela casa. Muito vinha do fogo, muito nos chegava daquela mulher tão maravilhosa.
Todos os anos se passava o Natal em casa da avó. Desde que meu pai falecera, Maria, minha mãe, levava-nos à serra.
Já muitos Natais se tinham festejado assim... brancos, quentes, sossegados. Eram os dias mais felizes da minha curta vivência. Passava todos os restantes, na cidade, planeando as novas brincadeiras, imaginando novos refúgios, sonhando com aquela casa de pedra tão fresca e acolhedora.
Os anos passaram. Assisti com a avó Lena à morte do avô, às agonias do tio Manuel, às missas de domingo, às visitas à velha Custódia.
Com ela chorei a perda da Musqueta, a sua vaca preferida e a morte do Farrusco, o cão que lhe fazia companhia e pertencera a meu pai. Continuei a ouvi-la cantar, a observar-lhe aquele sorriso meigo e tranquilo e a brincar com os meus heróis preferidos.
Como foi bela a minha infância!
Bela e triste, triste e bela. Chorando a morte de um familiar ou amigo, cantado aos serões de domingo, rindo às brincadeiras em grupo e alegrando-me ao nascimento de um novo cabrito.
O mais triste eram as partidas... Uma semana antes, já angustiados, não brincávamos. Cessavam pela casa e pelo vale os nossos gritos e as nossas travessuras. A avó lembrava-me sempre que era necessário aproveitar a vida até ao último minuto, mas quem conseguia brincar ou sorrir ao lembrar que mais um ano chegava e que afastados, não nos veríamos, não nos sentaríamos à lareira, não ouviríamos a avó Lena a cantar, nem a velha Custódia narrar histórias antigas do seu querido Pedrinho.
Um ano houve em que não passei o Natal na aldeia. Foi um Natal triste, tudo me faltou. Sentia saudades da avó, dos meus companheiros, daquela neve fria.
Teresinha adoeceu e minha mãe velara-a intensamente sem a deixar apanhar frio, como prevenira o doutor.
À janela, como hoje, sentia falta daquele agasalho serrano, não cheirava o doce aroma do meu campo, não via pisando a neve, o fumo quente que saía da chaminé da casa da avó.
Quando Teresinha se restabeleceu, já o Natal ia longe. A Primavera começava a brotar e eu, na cidade, lembrava como seriam belos os campos verdes e as andorinhas esvoaçando o céu azul. A avó Lena contava-me sempre histórias sobre os campos em flor, os animais que nasciam ao romper da erva verde e o cantar dos ribeiros que corriam por entre o prado.
E eu... na cidade olhando o céu recortado pelos telhados altos e toscos, lembrava com saudade o paraíso de Stª. Cristina.
Qual não foi minha alegria, ao ver chegar de novo o frio, a diferença dos dias, a chuva grossa que chamava o Inverno. Cada suspiro de Maria era para mim um verdadeiro conforto.
Minha mãe, tão avessa ao Inverno, detestava ouvir o vento assobiar por entre as árvores, e eu no meu canto, guloso, sorria a cada suspiro longo, como um predador à espera da caça.
Chegou Dezembro. Com azáfama, depressa tudo se arranjou e partímos para a serra.
Como sempre, Maria fazia a viagem connosco e depois de descansar três ou quatro dias, voltava ao litoral, para só regressar em meados de Janeiro.
Teresinha estava fazendo-se uma mulher. Estava mais forte e robusta cada ano que passava . Quando a olhava, já quase nem a reconhecia. Perdera as traquinices de menina e já usava vaidosa, uma fita de cetim, nos cabelos. Como era bonita a minha irmã! Parecida com Maria, apesar de na aldeia se dizer que tinha as feições de Pedro.
A avó Lena deleitava-se ao olhá-la. Não havia para ela mulher mais bela e elegante. Netos varões tinha dois, eu e o meu primo Zé. Do Zé pouco se sabia. Emigrantes há muitos anos, meus tios depressa esqueceram a serra e a avó Lena.
Nós eramos os seus verdadeiros “herdeiros”. Sentado ao seu lado, com Teresa no colo, quantas vezes a ouvi enumerar todas as riquezas que deixaria a cada um de nós.
- "Para Teresinha, o meu coelhinho branco - para Lucianinho, a Francesca que dá muito leite" - "Para Teresinha, a melhor poedeira - para Lucianinho o meu gato angorâ" - "Para Teresinha os bilros da avó - para Lucianinho, a minha velha cadeira de baloiço", e com esta cantilena a avó Lena nos entretia feliz por ter a quem deixar o seu mais precioso tesouro.
Não deixaria ouro, nem luxo, mas para nós aquelas relíquias tinham um valor incalculável.
Um ano, no Outono, a avó Lena faleceu. Pela primeira vez visitei a serra sem ser no Natal.
Pareceu-me diferente. Nada me mostrou de belo. As bonitas cores outonais nada me disseram e só, sentia um vazio enorme que se ia apoderando de mim, olhando o fogo vivo, junto ao qual a avó Lena durante tantos anos se aqueceu.
Os sinos, longe, entoavam uma melodia triste e compassada. A igreja pareceu-me pela primeira vez fria e desagradável. As chuvas que prediziam o Natal próximo, angustiavam-me de tal forma, que me faziam revoltar contra uma época tão bela e de que eu sempre tanto gostei.
Esse Natal foi o mais triste. Chorei a avó, o avô, o tio Manuel, a velha Custódia, a Musqueta, o Farrusco e até a neve branca que caía em grandes flocos.
À hora da ceia olhei a cadeira de baloiço vazia e a cestinha de palha onde sempre estavam os seus trabalhos e pensei nos Natais passados, felizes e quentes.
Junto àquela mulher que tanto amei nunca havia tristezas, longe dela a tristeza imperava crua e desmedida.
Pela primeira vez, nesse Natal me sentei no legado da avó e olhando o fogo, ouvia lá bem longe a canção dos nobios que ela tão bem entoava. Como que adivinhando meus pensamentos, Teresinha sentou-se a meu lado, com o gordo gato angorã da avó Lena nos braços e baixinho cantou a canção espanhola. Ao ouvi-la senti a presença daquela mulher que egoístamente nos tinha tão depressa abandonado e, fechando os olhos, adormeci sonhando...
Nesse ano pelo Verão, Teresa apaixonou-se por um rapaz do Minho, filho de um mercador conhecido e pouco tempo depois casou.
A Ana tinha também encontrado a felicidade junto do Zé da Maria Francisca, agora um homem forte e dinâmico, um dos grandes comerciantes da região serrana.
O João, esse... emigrou. Ligado sempre a um espírito aventureiro, resolveu fazer-se ao mar e viver a vida num país longínquo.
Fiquei eu, sozinho, sem companheiros de lutas e tréguas, sem companheiros de outras guerras.
Nunca mais deixei de passar o Natal em Stª. Cristina. Todos os anos me aqueço à lareira da avó e me embalo na sua velha cadeira de baloiço. Assisto ao nascimento das rêses de Dezembro e faço o presépio junto ao canto da sala, como a avó fazia em tempos.
Nesta janela, onde agora olho a neve lembro com saudade as botas grossas de borracha, os sermões da avó Lena e as roupas quentes que me vestia.
Um sonho me faz ansiar o próximo Natal em Stª. Cristina - ter à mesa da ceia todos os meus amigos e, sentada na cadeira da avó a velha mãe Maria.
Com eles festejarei o Natal da saudade, o Natal de vida, o Natal da casa da serra.
létinha (ficção)
Os prados verdes de Maio e dourados de Junho deram lugar a um manto branco de paz e inocência que tudo cobre.
Aqui e ali, saltitam coelhos atrás de um rato pequeno que se esgueira por entre as pedras do velho moinho da tia Celeste.
Eu, sozinho atrás da janela, olho aquela natureza bonita que encantava os meus sonhos de menino.
Lembro, com saudade, que cedo acordava e enfiado nas botas de borracha, corria feliz a pisar aquela neve fria que me encantava. Como era feiticeira toda aquela brancura! Cegava-me de início e depois... cobria-me... até me sentir gelado.
Era aos gritos da avó Lena que corria para casa onde me esperava o velho sermão de sempre e a roupa quente junto à lareira. A avó, sempre tão afável e preocupada lembrava-me a pneumonia que tinha tido aos quatro anos e ligeira enfiava-me a camisola, as calças, o casaco de lã e as meias grossas.
Eu, garoto ainda, não entendia todo aquele frenesi. Ouvia-a por respeito, mas nunca percebia todas aquelas preocupações.
Tantos cuidados... quando eu só queria pisar aquela neve branca que me atraía e tanta satisfação me dava.
Aos domingos saía com ela cedo. Era o dia das visitas. A casa do Senhor, em primeiro lugar; a casa da tia Custódia, velha caseira que encamara havia alguns anos e o tio Manuel que vivia no outeiro.
Todos eram simpáticos para comigo. Contavam-me velhas histórias, sempre as mesmas, que lembravam episódios antigos em que meu pai participara. Era com os olhos marejados de água que, por fim, diziam que o Lucianinho cada vez mais se parecia com o pai.
Pobre Custódia, pobre tio Manuel, como lhes era agradável sonhar com o passado...
Nessa época as histórias antigas pouco me diziam. Quem as ouvia, sempre atenta e também a choramingar, era a avó Lena. Também ela sonhava com o seu filho, menino travesso, que corria pelos campos e a arreliava ainda mais do que eu.
Depois, era o regresso a casa. O almoço quente ao lume, as resmunguices do avô, as traquinices de Teresinha, minha irmã mais nova. Tudo fazia parte do meu domingo na aldeia.
À tarde, esperava ansioso pela chegada do Zé da Maria Francisca, do João e da alegre Ana. Estes "amigos de Stª. Cristina", como lhes chamava na cidade, eram os meus companheiros de guerra travadas no campo, de passeios pelo deserto, de investidas no mato. Eram eles os meus companheiros da aldeia e os meus companheiros de sonhos, quando na cidade, bem longe, recordava as nossas brincadeiras.
O Zé da Maria Francisca era um garoto magro e com aspecto doentio que nem parecia ter já nove anos. Era filho segundo de uma numerosa família serrana. O João e Ana eram dois gémeos que, como eu, costumavam passar as férias de Natal na aldeia. Filhos de um juíz a exercer na Beira, eram dois garotos travessos que passavam o ano esperando gulosos como eu, a chegada do frio de Dezembro, do Natal e da neve.
Juntos formávamos um quarteto poderoso, forte e disciplinado que todas as noites agradecia a Deus, termos avós lá bem longe, na serra.
A noite de domingo era calmamente passada à lareira, ouvindo o primo Berto contar os seus negócios de gado, o tio Zé tocar guitarra e a avó cantar, enquanto fazia a sua renda de bilros. Como das suas mãos cansadas saíam trabalhos bonitos!
Lembro-me de passar muito tempo olhando-a, sempre com um sorriso nos lábios entoando a sua canção "Quien no habla como tu, no sabe ser un bon nobio"... Como cantava bem! Como o seu sorriso me parecia tão quente, como o fogo que ardia na lareira.
A avó Lena possuía a lareira mais quente de toda a aldeia.
Não faltava calor naquela casa. Muito vinha do fogo, muito nos chegava daquela mulher tão maravilhosa.
Todos os anos se passava o Natal em casa da avó. Desde que meu pai falecera, Maria, minha mãe, levava-nos à serra.
Já muitos Natais se tinham festejado assim... brancos, quentes, sossegados. Eram os dias mais felizes da minha curta vivência. Passava todos os restantes, na cidade, planeando as novas brincadeiras, imaginando novos refúgios, sonhando com aquela casa de pedra tão fresca e acolhedora.
Os anos passaram. Assisti com a avó Lena à morte do avô, às agonias do tio Manuel, às missas de domingo, às visitas à velha Custódia.
Com ela chorei a perda da Musqueta, a sua vaca preferida e a morte do Farrusco, o cão que lhe fazia companhia e pertencera a meu pai. Continuei a ouvi-la cantar, a observar-lhe aquele sorriso meigo e tranquilo e a brincar com os meus heróis preferidos.
Como foi bela a minha infância!
Bela e triste, triste e bela. Chorando a morte de um familiar ou amigo, cantado aos serões de domingo, rindo às brincadeiras em grupo e alegrando-me ao nascimento de um novo cabrito.
O mais triste eram as partidas... Uma semana antes, já angustiados, não brincávamos. Cessavam pela casa e pelo vale os nossos gritos e as nossas travessuras. A avó lembrava-me sempre que era necessário aproveitar a vida até ao último minuto, mas quem conseguia brincar ou sorrir ao lembrar que mais um ano chegava e que afastados, não nos veríamos, não nos sentaríamos à lareira, não ouviríamos a avó Lena a cantar, nem a velha Custódia narrar histórias antigas do seu querido Pedrinho.
Um ano houve em que não passei o Natal na aldeia. Foi um Natal triste, tudo me faltou. Sentia saudades da avó, dos meus companheiros, daquela neve fria.
Teresinha adoeceu e minha mãe velara-a intensamente sem a deixar apanhar frio, como prevenira o doutor.
À janela, como hoje, sentia falta daquele agasalho serrano, não cheirava o doce aroma do meu campo, não via pisando a neve, o fumo quente que saía da chaminé da casa da avó.
Quando Teresinha se restabeleceu, já o Natal ia longe. A Primavera começava a brotar e eu, na cidade, lembrava como seriam belos os campos verdes e as andorinhas esvoaçando o céu azul. A avó Lena contava-me sempre histórias sobre os campos em flor, os animais que nasciam ao romper da erva verde e o cantar dos ribeiros que corriam por entre o prado.
E eu... na cidade olhando o céu recortado pelos telhados altos e toscos, lembrava com saudade o paraíso de Stª. Cristina.
Qual não foi minha alegria, ao ver chegar de novo o frio, a diferença dos dias, a chuva grossa que chamava o Inverno. Cada suspiro de Maria era para mim um verdadeiro conforto.
Minha mãe, tão avessa ao Inverno, detestava ouvir o vento assobiar por entre as árvores, e eu no meu canto, guloso, sorria a cada suspiro longo, como um predador à espera da caça.
Chegou Dezembro. Com azáfama, depressa tudo se arranjou e partímos para a serra.
Como sempre, Maria fazia a viagem connosco e depois de descansar três ou quatro dias, voltava ao litoral, para só regressar em meados de Janeiro.
Teresinha estava fazendo-se uma mulher. Estava mais forte e robusta cada ano que passava . Quando a olhava, já quase nem a reconhecia. Perdera as traquinices de menina e já usava vaidosa, uma fita de cetim, nos cabelos. Como era bonita a minha irmã! Parecida com Maria, apesar de na aldeia se dizer que tinha as feições de Pedro.
A avó Lena deleitava-se ao olhá-la. Não havia para ela mulher mais bela e elegante. Netos varões tinha dois, eu e o meu primo Zé. Do Zé pouco se sabia. Emigrantes há muitos anos, meus tios depressa esqueceram a serra e a avó Lena.
Nós eramos os seus verdadeiros “herdeiros”. Sentado ao seu lado, com Teresa no colo, quantas vezes a ouvi enumerar todas as riquezas que deixaria a cada um de nós.
- "Para Teresinha, o meu coelhinho branco - para Lucianinho, a Francesca que dá muito leite" - "Para Teresinha, a melhor poedeira - para Lucianinho o meu gato angorâ" - "Para Teresinha os bilros da avó - para Lucianinho, a minha velha cadeira de baloiço", e com esta cantilena a avó Lena nos entretia feliz por ter a quem deixar o seu mais precioso tesouro.
Não deixaria ouro, nem luxo, mas para nós aquelas relíquias tinham um valor incalculável.
Um ano, no Outono, a avó Lena faleceu. Pela primeira vez visitei a serra sem ser no Natal.
Pareceu-me diferente. Nada me mostrou de belo. As bonitas cores outonais nada me disseram e só, sentia um vazio enorme que se ia apoderando de mim, olhando o fogo vivo, junto ao qual a avó Lena durante tantos anos se aqueceu.
Os sinos, longe, entoavam uma melodia triste e compassada. A igreja pareceu-me pela primeira vez fria e desagradável. As chuvas que prediziam o Natal próximo, angustiavam-me de tal forma, que me faziam revoltar contra uma época tão bela e de que eu sempre tanto gostei.
Esse Natal foi o mais triste. Chorei a avó, o avô, o tio Manuel, a velha Custódia, a Musqueta, o Farrusco e até a neve branca que caía em grandes flocos.
À hora da ceia olhei a cadeira de baloiço vazia e a cestinha de palha onde sempre estavam os seus trabalhos e pensei nos Natais passados, felizes e quentes.
Junto àquela mulher que tanto amei nunca havia tristezas, longe dela a tristeza imperava crua e desmedida.
Pela primeira vez, nesse Natal me sentei no legado da avó e olhando o fogo, ouvia lá bem longe a canção dos nobios que ela tão bem entoava. Como que adivinhando meus pensamentos, Teresinha sentou-se a meu lado, com o gordo gato angorã da avó Lena nos braços e baixinho cantou a canção espanhola. Ao ouvi-la senti a presença daquela mulher que egoístamente nos tinha tão depressa abandonado e, fechando os olhos, adormeci sonhando...
Nesse ano pelo Verão, Teresa apaixonou-se por um rapaz do Minho, filho de um mercador conhecido e pouco tempo depois casou.
A Ana tinha também encontrado a felicidade junto do Zé da Maria Francisca, agora um homem forte e dinâmico, um dos grandes comerciantes da região serrana.
O João, esse... emigrou. Ligado sempre a um espírito aventureiro, resolveu fazer-se ao mar e viver a vida num país longínquo.
Fiquei eu, sozinho, sem companheiros de lutas e tréguas, sem companheiros de outras guerras.
Nunca mais deixei de passar o Natal em Stª. Cristina. Todos os anos me aqueço à lareira da avó e me embalo na sua velha cadeira de baloiço. Assisto ao nascimento das rêses de Dezembro e faço o presépio junto ao canto da sala, como a avó fazia em tempos.
Nesta janela, onde agora olho a neve lembro com saudade as botas grossas de borracha, os sermões da avó Lena e as roupas quentes que me vestia.
Um sonho me faz ansiar o próximo Natal em Stª. Cristina - ter à mesa da ceia todos os meus amigos e, sentada na cadeira da avó a velha mãe Maria.
Com eles festejarei o Natal da saudade, o Natal de vida, o Natal da casa da serra.
létinha (ficção)
64 Comments:
Gostei de te ler e enquanto o fazia fui relembrando alguns episódios de infância :) Um beijo grande e boa semana *
tão bonito... quase me fizeste chorar...lembrei-me dos meus Natais tão parecidos, do meu avô, da infância que vivi... obrigado por me fazeres recordar...beijo
Fizeste-me chorar. Estou com um nó na garganta e as lágrimas correm-me pela cara abaixo enquanto escrevo.
Este Natal não é para mim como os dos outros anos. Ando mais abatida e nem me apetece fazer as compras de Natal ou fazer a árvore (que por esta altura já costuma estar feita). Já não está comigo tb a minha mãe e pesa tanto a sua falta!
Agora q tb já desabafei deixa-me dizer-te que adorei a tua história. Apesar de imensamente triste e saudosa, conseguiste transmitir-me toda a beleza que possuis dentro de ti. Recebo-a como uma prenda de Natal.
Só posso desejar-te o mais feliz dos Natais; apesar do q disseste no mail, espero q tudo se resolva pelo melhor e q possas entrar o novo ano de 2006 com o coração mais leve e feliz.
Eu por aqui vou andar e espero-te,
para continuar a ler-te.
Um beijo muito grande amiga.
Gostei muito do teu texto.
Está bem doseado este percurso pela tua genealogia, cheio de veementes relatos das mortes que se vão sucedendo e do acentuar das excelentes recordações que os avós marcam indelevelmente a memória dos netos, a nossa memória. A calma, o apaziguamento, as formas de relacionamento bem estabelecidas na rede social local equilibrada, a sabedoria do aproveitamento das coisas boas da vida.
Muito bom
Bjs
O que há a dizer?
O texto fala por si só...escrita delicada e carregada de emoções...
Boas Festas e tudo de bom para ti...:*
Uma bela narrativa que nos faz caminhar pelas alamedas de nossas próprias lembranças, buscando o reencontro com esse momento mágico onde a vida ficava a nos ofertar tesouros que somente anos depois teremos condições de avaliar. Tão bonita a sua forma de mostrar os laços afetivos se formando, se consolidando, se fazendo perene no decorrer da vida. Obrigada amiga querida, por esse momento tão lindo que me ensejaste nessa manhã que mal desponta. Estou enviando um e-mail, aguarde. Um beijo, meu anjo, com todo o carinho que inspiras ao meu coração, nos votos de uma quarta-feira de muita paz, esperança e amor.
Tão bonito,
tão intenso,
tão profundo.
Parece tão real, que vem à memória os meus Natais de infância, as saudades, as recordações.
Obrigada
Um bom Natal e que o ano de 2006 te traga mais alegrias.
Um bj
Lu
Belíssimo texto, Letinha!
Feliz Natal e tudo do melhor em 2006.
Nelsinho
Bonito conto, condizente com a época que atravessamos.
Espero que a cirurgia do teu filho tenha corrido bem.
Beijinhos
querida Letinha que lindo é o teu conto, faz-me lembrar os Natais que passo sempre na Serra, adoráveis e de uma vivência fora de série. Já tinha saudades de te ler.. espero que corra tudo bem com o teu filho, eu sei que vai correr!!!! Que o teu Natal seja repleto de coisas boas e sobretudo muito calor humano.. Bjhs e já sabes que estou sempre aqui...
Eu também vou para o norte a passar o natal para a terra onde nasci, Aldeia da Dona no Concelho do Sabugal. Provavelmente haverá um manto branco, o que nunca se vê por aqui perto de Lisboa.
Grato pela prenda, amiga.
Deixo o meu abraço fraterno, desejando tudo de bom para ti e os teus.
Que conto delicioso Létinha.
Beijinhos agradecidos
LÉTINHA,
em algum lado tive conhecimento que hoje, dia 16 é o teu dia.
Por isso, aqui estou para desejar um belo dia de aniversário para ti, com tudo o que mais desejas. Muitas prendinhas, e depois juntam-se as do Natal, isso é que vai ser...
Saúde, Paz, Amor, Amizade, Alegria, tudo o que te faça Feliz e contes muitos anos aqui na nossa companhia. Muitos Parabéns.
Beijokas.
Passei para te desejar um Feliz Natal e fazer votos para que 2006 seja Mensageiro do que mais desejares.
Beijo grande da Lina/Mar Revolto
FELIZ NATAL PARA TI E PARA OS TEUS
BJS
Grande texto aqui nos deixaste!
Gostei de voltar aqui ao teu cantinho.
Beijinho grande*
Aqui ficam os meus votos para que todos os vossos desejos se tornem realidade, sempre que pedidos com muita fé e esperança, e que o vosso Natal seja em paz, rodeados da família ou de quem mais vos ame, para que dentro dos embrulhos não vá apenas uma prenda, mas ternura, amor e carinho mascarados com papel e fita...jinhuz e volto sempre...
E por que o Natal está à porta: FELIZ NATAL! *
lindo este teu conto...adorei ler
desejo-te um feliz natal e que o ano novo seja repleto de coisas boas e lindas , para ti e todos os teus
mil jocas maradas de natal
Obrigada por teres feito parte do MEU MUNDO.
os meus votos sinceros de um Feliz Natal para ti e para
os que te são mais queridos.
Beijinhu gande
:)
Létinha
Voltei para te desejar um Feliz Natal! Espero que todas as tuas angústias já tenham desaparecido.
Beijo grande
Desejo-te um Feliz Natal.
Saída directamente da casquinha para deixar os desejos de um NATAL cheinho só de coisas boas ... tudo, mas tudo o que houver de melhor são os meus mais sinceros desejos.
Uma beijoca encaracolada em forma de bola de Natal :)
Feliz Natal =)
Que tenhas tudo de bom, Paz, Saúde, Amor e uns trocos para gastar =)
Boa sorte e beijinhuxxx*
encantador o teu texto.
com um Natal de ontem passado, desejo-te um feliz Natal de hoje.
bjks
Desejo-te o melhor Natal de sempre e um 2006 cheio de coisas boas.
Beijinhos.
Létinha,
Muita Paz, muita Saúde, Felicidade e Amor no coração.
E que no ano que se inicia, possamos estar novamente juntos.
São votos sinceros da Matilde, Ligia e Miguel Brito
Destes vossos Amigos de e para Sempre ...
PS: Não te esqueças de votar no Selo dourado do Blogstars
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Nestes dias em que o espírito de Natal chega aos nossos corações de uma forma tão terna, quero agradecer por todos os momentos que você me proporcionou com palavras de amizade, de incentivo, de compreensão, ou qualquer outra forma de carinho. Que o Menino Jesus possa fazer um ninho em seu coração, e espalhar paz, alegria e amor em cada dia do ano de 2006. Que haja sempre muita esperança no amanhã e muitas flores desabrochando nos seus caminhos. Um beijo no seu coração e um afago na sua alma, com muito carinho da Mily.
So te desejo um Natal em paz!
Beijinho doce*
Olá cara amiga...
Lamentávelmente, não pude passar aqui mais cedo...
Vi-te ontem!
Estavas, inerte.
Como flor em jardim
E ao ver-te
Quedada, assim
Desejei falar...
Não tal não pude ousar.
Pois apesar de só,
Emitias a luz de um farol!
E tu, flor central
Apenas parecias o sol
Da noite, dos pensamentos,
Que guia o rumo dos amantes
Atenuas os seus lamentos.
Por isso te vi...
Não falei.
Mas senti!
Para ti, beijinhos
Aproveito, uma vez que me vai ser difícil voltar aqui antes de dia 3/01/2006, para vos desejar que todos os vossos sonhos e desejos mais profundos se cumpram neste ano, para vos agraceder as visitas, apoio e dedicação que me têm oferecido neste ano que ainda corre, espero que o ano 2006 seja uma continuação destas amizades e o começo de muitas mais...Beijo e Feliz Ano Novo!
Venho desejar um encaracolado 2006 ... enrroladinho em coisas boas, cheio de alegria e boa disposição, força, amigos, amores, dinheiro, perspectivas, saúde, muita farra e ... dizer-te que foi um enorme prazer contar contigo na casquinha ...
Que um mar de felicidade inunde as vossas vidas no próximo ano !!!!
Beijoquinha muito encaracolada em coisas boas !!!! ;)
#Feliz Ano Novo!
Que conto tão lindo,obrigada
Namastê#
vou ser-te sincero, não li o texto, fica para outra altura, passei só para ...
um bom 2006, e desejo que as pessoas ganhem vergonha na cara e que assumam a sua condição de ser humano
Para ti, um até já
Olá amiga,
...Longa tem sido a minha ausência..mas não podia deixar de passar por aqui hoje para te desejar um 2006 com muita Paz e Amor..
...e que todos os teus sonhos se realizem.
Beijinhos.
FELIZ ANO NOVO!
ai, linda..a esta hora e depois de tanto brinde nao consigo ler esse que deve ter sido um GRANDE Natal....loool
um excelente 2006
beijinhos
rqt
Querida Letinha
Neste início de ano vim desejar-te uma boa semana e o melhor para 2006.
Bjs.
Amiga, estive ausente por uns dias, mas nada melhor do que aproveitar uma folguinha em companhia daqueles a quem mais amamos, nao é assim? Assim que já estou de volta, com vontade de seguir adiante neste novo ano que apenas começou... Espero seguir contando com tua alegria, tua companhia, tua amizade...
Muitos beijos, flores e sorrisos para ti, minha querida!
Um dos mais belos contos de natal que li. Um 2006 de sonhos cobcretizados é o que te desejo.
Beijinhos
Letinha por onde andas?
...Espero que esteja tudo bem contigo?
Beijinhos para ti.
Voltei já há dias e tenho estranhado a tua presença. Espero que tudo esteja bem e aguardo mais um belo texto dos que nos habituaste.
Beijos.
Olá Letinha. A tua amiga Ju usou o teu blog para licitar e ficar com uma peça nossa. Gostaria de saber como faço para entrar em contacto com ela, pois preciso da morada para proceder ao respectivo envio.
Que se passa contigo que nao tens escrito?
Beijinhos e obrigada
Queridos(as) amigos(as), Gostava que pudessem dar uma passada lá pelo meu blog para ver o post "Silence... shhh..." que fala de um dos grandes males da blogosfera, da qual fui vítima recente... Espero que, pelo menos, sirva de alerta a todos!!! Muitos beijos, flores e sorrisos!!!
Létinha, como prometido é devido! Aqui vim passar ler o Natal de ontem, espetacularmente bem escrito, bem narrado, confesso que a principio me confundiu!!! não tinha percebido que era ficção... depois de perceber, foi tudo mais simples.
parabens
beijinho do Alexandre
Letinha,
...passo para te deixar um beijinho...espero que esteja tudo bem contigo...
Letinha, de vez em quando venho espreitar para ver se há novidades. Se não escreves é porque não estás bem. concerteza.
Se vieres aqui espreitar verás que tens muitos amigos por aqui q te querem bem e q te desejam o melhor.
Um beijo grande para ti amiga
Létinha...voltei para te deixar um beijinho...se puderes dá noticias tuas...Ok?
Oi meu anjo! Estou chegando das férias e apressei-me em vir visitá-la... o que houve, amiga? Por que esse sumiço tão prolongado? Estou muito preocupada contigo! Dá notícia, por favor! Gosto muito de ti e torço para que tudo esteja bem contigo. Deixo beijos e abraços de saudade, envoltos em muito carinho.
Já vi que não voltaste ainda. Deixo um beijo para ti amiga.
Mais uma volta por aqui e tu sem nos dizeres nada. Espero que tudo esteja bem.
Em Alvito acontece...
Já somos 44...
Esperamos muitos mais
Bom fim de semana
Beijos
Létinha....começo a ficar preocupada amiga!!!
Beijinhos e dá um sinal por favor!
Olá! Então não há ninguém que tenha conhecimento do que se passou, que possa vir aqui dizer?!
Hmmm
Olá! Eu não sei na realidade o que se passou por esta ausência da Letinha. Suponho que tenha sido pela grande azafama que teve com o lançamento do seu 1º livro. Foi ontem, um momento muito bonito, tudo preparado com muito gosto e muito carinho, mesmo ao estilo da Letinha. O livro chama-se "Acrósticos... na noite" e a editora é a Corpos.
Mais uma vez, parabéns à Letinha e bem haja pelas suas palavras sempre tão simples e profundas.
Lu
Letinha, li num blogue que editaste um livro. então continuas calada e não nos dizes nada??? Nós queremos saber tudinho... Vá lá.. Bjhs
Recebi o teu mail. Já andava a pensar o q te teria acontecido... Mas essa notícia do livro... não esperava. Fazes o favor de divulgar isso no teu blog. E avisar a quem quiser comprar, como fazê-lo.
Beijos grandes para ti
Fiquei feliz por receber notícias tuas. o meu endereço é lumife@sapo.pt Aguardo notícias.
Passa um Bom Dia.
Beijos
Querida Létinha,
...fiquei tão feliz por ter recebido noticias tuas!!!...olha até me esqueci de te vir aqui agradecer o mail :)
Que boa a noticia que nos destes!!!
Beijinhos muitos para ti e que tudo te continue a corer bem!
NAO PRESTA
DESCULPA
MAS NAO GOSTO
EU ANDO A PROCURA DE CONTOS DE NATAL E O TEU NAO PRESTA
ISTO E UMA SECA
~DEVIAM TER VERGONHA DASTA PORCARIA
BJUS
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